Torá em Português
Parashát Ki Tavô
Abundância Maldita
Tradução de español: David Abreu
Imagine que você pertença à geração do deserto e deseja abrir um pequeno negócio para atender às necessidades dessa multidão. Quarenta anos com um público cativo e seiscentos mil clientes juntos não é nada a desprezar. Vamos pensar em algumas alternativas:
Venda de água mineral. Não serve. Um poço de água acompanhou Israel durante toda a jornada pelo deserto.
Venda de pão e alimentos diversos. Também não funciona. Pão caiu do céu.
Uma agência de segurança para longas caminhadas. Desnecessário. Uma coluna de nuvem e outra de fogo os guiavam e cuidavam deles como ninguém.
Venda e conserto de calçados e roupas. Sem sentido. A Parashá desta semana já diz: "Seu vestido não estragou em você, e seu sapato não estragou em seus pés" (Devarim 29, 4).
O que estava faltando na geração do deserto? Nada. Tão poucas iniciativas comerciais poderiam ter dado certo ... Tudo isso na verdade tinha um objetivo. Formar um povo inteiro no espírito da Torá, para que eles pudessem estudar aquela Lei que receberam no Monte Sinai e entrar na Terra Prometida como um povo santo.
Quando você pensa em como foi vantajosa a travessia do deserto, você entende por que aquela geração era tão reclamante e difícil de entender. Abundância excessiva é uma verdadeira maldição, especialmente quando D'us é deixado de lado.
Em nossa Parashá o povo de Israel está nas planícies de Moabe preparados para a conquista. E é aqui - em frente ao rio Iarden (Jordão) - que se renova o pacto que já foi feito no deserto.
Por que uma segunda aliança foi necessária? No deserto, a liderança do povo era milagrosa e sobrenatural. Ao entrar na Terra Prometida, isso mudaria. Lá ele entraria com a ajuda de uma condução natural e terrena: iria conquistar a Terra pela espada, e obteria o pão, como o resto da humanidade, com o suor de seu rosto.
D'us sabe que aquela velha geração foi cercada por tantos milagres que eles nunca poderiam apreciar nenhum. Agora ... as regras do jogo mudam, e o pacto se renova na esperança de que essa nova geração possa entender mais e melhor.