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Torá em Português

Old Hebrew Prayer Book

Parashat Korach

De escravos a millennials

Tradução de español: David Abreu

Nem sempre há consenso entre os comentaristas sobre a ordem cronológica dos eventos na Torá.

Uma dessas disputas clássicas se refere à Parashat Korach, já que nossa Parashá não especifica a data da revolta empreendida contra Moshe e Aharon.

De acordo com Ibn Ezra, a rebelião de Korach ocorreu imediatamente após o pecado do bezerro, "quando o primogênito foi substituído e os levitas diferenciados (do resto das tribos)" (Ibn Ezra, comentário a BeMidvar 16, 1).

Outros - como RaMbaN - afirmam que este episódio ocorreu "no deserto de Paran, em Cades Barnea, após o evento dos espiões" (RaMbaN, comentário a BeMidvar 16, 1).

A lógica de Ibn Ezra e RaMbaN é diferente.

Ibn Ezra enfatiza a natureza da revolução de Korach. Dado que esta foi uma disputa liderada por Levitas (Korach) e Reuvenitas (Datã e Aviram) – Reuven era o filho primogênito de Yaakov Avinu – é lógico pensar que isso aconteceu quando as hierarquias dos filhos de Israel foram modificadas. Se o primogênito não fosse mais o eleito do povo ... quem deveria substituí-lo? Os levitas - que não pecaram com o bezerro - ou a tribo primogênita de Jacó?

O RaMbaN, por sua vez, enfatiza a natureza da reação divina. Algo muda na atitude de Deus após o pecado dos espias. Depois de ter decretado os quarenta anos no deserto, Deus finalmente entende a natureza da geração do deserto, um povo com o coração perdido, sem saber de Seu caminho (ver Tehilim 95, 10). Sua paciência acabou e ele não deixa espaço para interpretações duplas. Aquele que não acredita na eleição da tribo de Levi, na profecia de Moshe e no sacerdócio de Aharon, não acredita em Deus. O modelo parental de Deus muda desde a raiz. Deus estabelece limites e os maus-tratos daquela geração para com Deus recebem respostas inequívocas.
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Ouvi há algumas semanas uma dissertação do escritor anglo-americano Simón Sinek sobre a geração "Y", ou geração dos millennials.

Isso geralmente é definido como os jovens adultos nascidos na primeira metade dos anos oitenta e no final dos anos noventa. Segundo Sinek, esta é uma geração com alta dose de narcisismo e egocentrismo. Muitos de seus membros têm tendências depressivas e baixa autoestima. Sinek entende que isso ocorre em função do contexto e da forma como essa geração foi criada. Seus pais ensinaram-lhes que eram especiais e que tudo o que decidissem, alcançariam apenas por querer. Mas, ao entrarem no mundo do trabalho, batem na parede e sua autoestima vai para o chão.

Alguns dos millennials foram recebidos em classes avançadas não porque eles mereciam, mas porque seus pais foram implorar ao diretor. Outros receberam boas notas, simplesmente porque os professores não queriam confrontar os pais. Há crianças que receberam medalhas mesmo quando terminaram em último lugar em uma competição.

Esses jovens - diz Sinek - se formaram, entram no mercado de trabalho e logo entendem que não são tão especiais quanto pensavam, que suas mães não vão conseguir a promoção desejada, que na vida real ninguém vai lhes dar um medalha por terminar em último, e que nada se consegue só querendo. Como se isso não bastasse, ter crescido no auge da Era da Informação - onde a conexão constante é comum - transformou a geração do milênio em seres especialmente impacientes.

É interessante analisar a quantidade de coincidências que existem entre a geração "Y" e a geração do deserto. De escravos, aquela geração se tornou - em um piscar de olhos - uma geração de millennials.

A conduta daquela geração também pode ser explicada à luz do contexto em que foi criada pela mão divina. Deus os resgata do Egito, faz com que se sintam especiais e os cerca de milagres e dádivas celestiais. O maná veio do céu, o poço de Miriam os acompanhou e os abasteceu com água. No entanto, de tantos milagres que receberam, eles não puderam apreciar nenhum. E essa geração, devido a esse contexto, ficaria rebelde, impaciente e acreditaria que merecia tudo ... como a geração dos millennials.

Deus vai educar a próxima geração de maneira diferente. Eles vão estudar a Torá durante a travessia do deserto e vão entender que Deus dá e exige em igual medida. Eles assimilarão que a eleição do povo acarreta responsabilidades, não benefícios. Que na terra prometida do cai chuva e a terra dará frutos, só por mérito. Ninguém vai te dar medalhas por ter chegado em último. Na terra prometida haverá uma dose maior de esforço e uma dose menor de milagres.

O RaMbaN aponta para isso quando localiza a revolta de Korach após o pecado dos espiões. A mudança começou. Obviamente, Deus também aprende a ser pai.

Rabino Gustavo Surazski, Ashkelon, Israel

gustisur@gmail.com

+972547675129

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