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Torá em Português

Old Hebrew Prayer Book

Parashat Miketz

Corpo e Espírito

Tradução de español: David Abreu

No Sefer Bereshit capítulo 10, somos informados sobre os filhos de Noé que foram os ancestrais de todas as nações do mundo.

O primeiro filho foi Shem. Todos nós sabemos o significado da palavra "Shem" (nome). O nome é a essência do ser humano, o universo do espírito. Nosso ancestral Abraão era descendente de Shem, de modo que, de fato, todos nós, como judeus, somos descendentes dele.

O nome Cham, o segundo filho de Noé, deriva da palavra "Chom", que significa "calor". O mesmo nome se refere ao mundo do físico, do instintivo e, freqüentemente, do primitivo. Os cananeus eram descendentes de Cham.

O terceiro filho era Iafet, palavra derivada da palavra "Iofi", que significa "beleza". Ele é o arquétipo do mundo da arte e da estética. Não é por acaso que a Torá nos diz que Iafet gerou Iavan (Grécia), um império insuperável nessas áreas.

Para entender o significado profundo da festa de Chanucá, devemos pensar sobre a natureza essencial de Noé e seus filhos. A guerra de Hasmonaim (Macabeus) não foi apenas uma guerra para garantir a sobrevivência física do povo judeu, mas também uma guerra para garantir sua sobrevivência espiritual. Foi uma guerra entre os valores que emergem da essência do Iefet e a essência de Shem. Com isso, não quero dizer que o povo judeu seja contra a estética, a arte e o esporte. A tradição judaica nunca se opôs à beleza externa, mas nunca permitiu que o corpo prevalecesse sobre o espírito. O conhecido versículo que afirma que "A graça é enganosa e a beleza é vã; a mulher que teme o Eterno será louvada" (Mishlei 31, 30), não nega o valor da graça e da beleza, mas sim afirma que sem beleza espiritual ambos são inúteis.

Iosef, sobre quem lemos na Torá atualmente, era um homem de grande beleza (Ifé Toar Vifé Maré). No entanto, os sábios nunca se referem a ele como "Yosef, o belo", mas sim como "Iosef, o Justo (HaTzadik)", prova de que Iosef conseguiu superar o assédio da esposa de Potifar.

Se você me perguntar qual é a razão da sobrevivência do povo judeu depois de tanta perseguição e sangue, só há uma resposta: o povo judeu nunca foi submetido ao mundo material; nem aos monumentos, nem à terra, e nem mesmo às Tábuas da Lei.

Aprendemos a renascer após a destruição do Templo. Crescemos como nação, mesmo nos tempos difíceis do exílio. Sabíamos escrever livros após a perda das Tábuas da Lei.

Por outro lado, os povos que cultuavam o corpo e o mundo material aparecem nos livros de história hoje. Isso apenas mostra que o corpo pode ser destruído, mas nunca o espírito.

Podemos entender essa ideia a partir da história do Rabino Hanina ben Tradion, um dos dez mártires do Império Romano. Quando os romanos o trouxeram para ser executado, ele foi enrolado em um rolo da Torá e incendiado. Enquanto seu corpo queimava, seus alunos perguntaram-lhe: "Rabino, o que você vê?" Ele respondeu: "Vejo que o pergaminho está queimando, mas as letras voam" (TB Avodá Zara 18b). Os ímpios poderiam queimar um Rabino enrolado em um rolo da Torá, porém nunca conseguiram queimar a essência eterna daquele Texto.

As velas de Chanucá são um testemunho do triunfo do espírito, um valor que nenhum poder terreno pode destruir.

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